Por Sérgio Gonçalves
LISBOA (Reuters) – Enfrentando uma seca sem precedentes, Portugal vai cortar a irrigação de campos de golfe e espaços verdes na região do Algarve, dependente do turismo, para evitar o racionamento de água para consumo humano, disse o ministro do Meio Ambiente do país nesta sexta-feira.
Portugal continental já tem 99% do seu território em seca severa ou extrema em consequência da recente vaga de calor, segundo dados do instituto nacional de meteorologia IPMA divulgados esta sexta-feira.
O IPMA adiantou que, nos primeiros 17 dias de julho, as temperaturas máximas em Portugal continental atingiram em média 33,9 graus Celsius, 5,2 graus acima do período homólogo do ano passado.
O ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, disse que a medida restritiva no Algarve foi livremente acordada pelo governo e pela associação de hotéis AHETA do Algarve, e vai poupar 100 milhões de litros de água nos próximos meses de verão.
Em Portugal, onde vivem mais de 10 milhões de pessoas, o consumo diário de água é de 18 litros per capita.
“Confirma-se que esta é a seca mais grave deste século e exige poupança de água por parte de todos os portugueses – famílias, sector do turismo, agricultores e indústria”, disse aos jornalistas.
Ele disse que “agosto também será um mês muito quente” em todo o país, mas acrescentou que “não haverá racionamento de água para consumo humano”.
O número de turistas estrangeiros que visitaram Portugal em maio saltou quase seis vezes para mais de 1,58 milhões, mas ainda ficou cerca de 9% abaixo dos níveis pré-pandemia do coronavírus, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE).
Os visitantes da Grã-Bretanha representaram a maior parte do total de chegadas em maio, com 16%, com a grande maioria a dirigir-se ao Algarve.
As mudanças climáticas deixaram a península ibérica em seu período mais seco em 1.200 anos, e as chuvas de inverno devem cair ainda mais, mostrou um estudo publicado este mês na revista Nature Geoscience.
A agricultura consome 75% do abastecimento de água de Portugal, mas a agência ambiental APA estima que cerca de um terço é desperdiçado devido ao sistema de irrigação e distribuição desatualizado.
(Reportagem de Sergio Gonçalves, edição de William Maclean)