Coma Claudinos, não Pastéis de Nata, na Costa da Caparica, Portugal

Muitos turistas que visitam Lisboa nunca saem do centro da cidade, incapazes de se desvencilhar dos prédios forrados de azulejos, das charmosas ruelas de paralelepípedos e – claro – dos pastéis de nata perfeitos servidos em cada esquina. Poucos estão dispostos a atravessar a icónica Ponte 25 de Abril ao estilo Golden Gate para chegar à Costa da Caparica, mesmo para enfiar os pés na areia bege das praias mais próximas da capital portuguesa. E isso é bom para os residentes; mais claudinos para os locais.

A massa folhada longa, em forma de charuto, recheada com creme aveludado é onipresente na margem sul do rio Tejo. Originou-se na pastelaria local Papo-Seco antes de se espalhar para outras lojas próximas. A Pastelaria O Capote, porta-estandarte da forma hoje, gera longas filas que serpenteiam pela frente da loja nos dias quentes de verão. A pastelaria já saltou o rio e invadiu Lisboa, ganhando terreno numa cidade já sobrecarregada de doces tão diversos como os padrões de azulejo que cobrem as paredes antigas.

Embora você possa encontrar um em seu próximo passeio por Lisboa, a melhor maneira de desfrutar de um claudino é em seu ambiente nativo na Costa da Caparica.

Uma cliente saboreando seu café no O Capote.

Um trabalhador atrás de uma caixa de pastelaria, com um cliente olhando do outro lado

O caso de pastelaria em O’Capote.

O que é um claudino exatamente?

Como a maioria dos doces portugueses, os claudinos são uma iteração daquela dupla incansável de açúcar e gema de ovo, que se juntam num rico creme de confeiteiro juntamente com leite morno e algum tipo de amido para dar estrutura. Ao contrário de outros doces locais, os claudinos não foram desenvolvidos há séculos em um mosteiro ou convento. Na década de 1980, um confeiteiro não identificado do Papo-Seco estava testando novas receitas quando decidiu polvilhar açúcar em sua massa folhada antes de assar e usar creme de confeiteiro como recheio. O resultado saiu melhor do que o esperado e se tornou um sucesso instantâneo entre os moradores locais. Quando o Papo-Seco fechou as portas 10 anos depois, alguns dos ex-cozinheiros permaneceram na Costa da Caparica e encontraram trabalho logo abaixo da Rua dos Pescadores em O Capote — e levaram a receita claudino com eles para o seu novo empregador.

Os doces portugueses, incluindo os amados pastéis de nata, são projetados para acompanhar o café, entregando o pequeno toque perfeito de açúcar. Isso vale para os claudinos também. Mas o claudino moderno tem uma vantagem sobre seu antigo concorrente redondo: o claudino é a “forma perfeita para ser apreciada com um café na outra mão”, diz Magda Costa, gerente de O Capote.

“O claudino tem um formato mais estreito, anatômico e ergonômico, mais fácil de pegar e cabe perfeitamente na boca”, concorda a designer Rita João, editora do Fabrico Proprio: O Design da Doçaria Semi-Industrial Portuguesa, que traça a criação de muitos doces portugueses. Ela explica que a receita que apareceu em O Capote é uma versão de outro doce tradicional português, a parra, mas com um formato inspirado nas eclairs francesas.

Um padeiro carrega bandejas empilhadas com várias fileiras de doces.

“Por ter menos área de superfície [compared to a parra], a massa cozinha uniformemente”, explica João. Com seu formato longo, fino e lateral aberta, “também é mais fácil adicionar o recheio, que é artesanal, sem o uso de cremes de ovos semi-industriais que já são tão comuns em todo o país”. Como a receita pede massa folhada em vez do pâte à choux comum em doces franceses, o claudino não é tão oco quanto um eclair, facilitando o equilíbrio da proporção de massa para creme. A inovação do Papo-Seco, de polvilhar açúcar sobre a massa antes de levar ao forno, também cria um esmalte brilhante na superfície. “É uma combinação vencedora de formas, texturas e sabores”, diz João.

Os Claudinos atraem gente de todo o país, especialmente durante o verão, quando a Costa da Caparica recebe hordas de turistas. Mas os claudinos não se restringem aos dias mais quentes do ano. “É o nosso carro-chefe durante todo o ano. Não tem um dia que a gente não venda pelo menos um”, diz Costa. O doce tornou-se tão popular que O Capote recebe encomendas de claudinos gigantes (até dois quilos cada) para servir de bolo de aniversário.

Não por acaso, os claudinos ganharam espaço nas bancadas das pastelarias da baixa lisboeta. A Tentadora, um café inaugurado em 1912 no bairro de Campo de Ourique, acrescentou claudinos há seis anos, e o doce do sul representa 10 por cento das vendas diárias. “Cada vez mais pessoas pedem um claudino aqui. Eles sabem que fazemos e vêm buscar”, diz o gerente Carlos Faria.

A receita original continua sendo um segredo bem guardado em O Capote, mas um padrão geral circulou entre as lojas concorrentes – embora alguns prefiram usar creme de ovos como recheio.

Um pedestre atravessa na frente de um restaurante iluminado pelo sol, onde os clientes se sentam em mesas ao ar livre sob toldos de telhas.

Fora de O Capote.

Onde conseguir um

O Capote

Dos fornos de O Capote saem lotes de claudinos durante todo o dia. Pare no café da manhã para saborear um com meia de leite, a versão local do café com leite. Ou passe pela tarde, quando um claudino faz o lanche pós-praia ideal.
40 Rua dos Pescadores, Costa da Caparica, 2825-386

Pastelaria Copacabana

Na mesma rua de O Capote, a Pastelaria Copacabana abriu há cinco décadas na Costa de Caparica. Como seu famoso vizinho, serve claudinos com creme de confeiteiro tradicional. O chefe pasteleiro, Joaquim Pires, chega todos os dias às 3 da manhã para garantir que a pastelaria esteja estaladiça à chegada dos primeiros convidados.
3-4 Rua dos Pescadores, Costa da Caparica, 2825-345

Xandita

Inaugurada em 1970, a Xandite tem três sucursais na Costa da Caparica. O da Rua Dom João é o local clássico, com azulejos pintados à mão cobrindo as paredes. A cadeia concentra a produção em sua cozinha central, entregando claudinos frescos (feitos com creme de ovo) todas as manhãs – mas eles não duram muito.
11 R. Dom João VI, Costa da Caparica, 2825-322

Rafael Tonon é jornalista e escritora gastronômica que vive entre o Brasil e Portugal. Ele é o autor do livro As Revoluções Alimentares.

Humberto Mouco é um fotógrafo português e residente em Lisboa. Ele fotografa profissionalmente, especialmente com foco em retratos e comida, desde 1994.

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